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Mão na massa: a tradição da culinária italiana em São Paulo

De um simples almoço de domingo ou até cantinas tradicionais, a gastronomia italiana entrou de forma definitiva no paladar dos paulistanos.

Sabe aquele lugar que te lembra a casa da nonna? Com cheiro de comida caseira que remete à memória de infância? Na Cantina da Conchetta, você consegue resgatar essa lembrança. Localizada em um dos locais mais italianos da cidade de São Paulo, a cantina é um pedacinho da Itália no bairro do Bixiga.

Com o aroma marcante e massas tradicionais feitas artesanalmente, a Conchetta é reconhecida por sua utilização de produtos naturais, essência comprovada logo quando você adentra ao espaço.

“A nossa cantina foge um pouco do que são as outras cantinas. Esse protocolo acaba sendo um lugar mais despojado. Todas as nossas massas são feitas aqui e estamos tentando manter a nossa história e nossa cultura de coisa caseira e tradicional”, relata Solange Taverna, proprietária e filha de Walter Taverna.

A experiência fica ainda melhor quando se repara na decoração. Com cadeiras encapadas com cores da bandeira italiana, camisas de times penduradas ao redor, o ambiente se tornou um lugar aconchegante como um típico almoço de domingo em família.

Mamma Mia: uma tradição em família

Todo domingo, para qualquer italiano e seus descendentes, o almoço em família é sagrado. Essa é uma tradição que se perpetua. Sabe aquele almoço de domingo na casa da sua avó? Ele também é um costume dos imigrantes italianos.

Esse hábito é muito comum na casa da Maria Emília, 78 anos, voluntária da área de comunicação da festa de Nossa Senhora da Achiropita e neta de italianos. A aposentada conta que este costume é algo que carrega desde pequena e transmite para seus filhos e netos. 

“Olha, na minha casa é impossível um domingo sem macarronada, é impossível não ter. Não dá para conceber. Então, aí já é um costume. Aí você vai dizer ‘a senhora tá gordinha’ então, porque o italiano gosta de mesa farta, não precisa ter luxo, mas a mesa farta é importante. Às vezes eu penso que preciso aprender a fazer menos, mas não consigo”, comenta a voluntária.

O almoço tipicamente italiano é feito de forma caseira. A matriarca da família, geralmente a nonna, prepara diversas massas, como o fusili, receita tradicionalmente feita nos almoços da família Romano. Esse é um dos pratos preferidos da Carmela Romano, 89, imigrante italiana. Morando no Brasil desde 1954, a progenitora da família trouxe para seus filhos e netos esse amor pela cultura italiana e, principalmente, pela culinária.

 

 

 

 

 

 

 

 

“Eu acabei desenvolvendo o meu jeito de cozinhar, mas tudo isso começou por eu ter a nonna em casa que trouxe essas receitas para o Brasil. A minha mãe também ama cozinhar, ela faz massas, então já é algo de família. E além de ser cultural, eu tenho muito orgulho da minha cultura italiana. Então isso foi passado da minha avó para minha mãe e da minha mãe para mim”, diz orgulhosamente Marina Romano, neta da Carmela.

 

Hoje, essa referência familiar também pode ser vista em diversos locais, como nas cantinas. Com a correria do dia a dia, muitas pessoas vão atrás desse aconchego. Na Cantina da Conchetta, onde também é uma das diversas heranças italianas deixadas em São Paulo, você pode vivenciar esse clima particular e íntimo.

Uma fofoca que deu certo

Walter Taverna, empresário de 88 anos que morreu por decorrência de pneumonia em maio de 2022, foi o fundador da Conchetta e deixou um grande legado para a família Taverna, especialmente para a sua filha Solange, atual proprietária do estabelecimento.

Referência da Itália no bairro do Bixiga, a história da cantina começou há 50 anos. Com um nome curioso, Conchetta - que no Brasil seria como Conceição - foi uma homenagem para uma senhora que lia jornais arduamente. Solange relata que a senhora Conchetta ficava esperando pelos periódicos de madrugada e espalhava para o bairro as notícias que tinha lido.

“Quando meu pai fez a homenagem colocando o nome dela, em menos de uma semana todos sabiam. A nossa casa foi inaugurada mais ou menos em 1970, foi uma das primeiras cantinas do meu pai. Eu era bem pequena”, conta Solange.

Para ter um diferencial das outras cantinas, Walter desenvolveu o método que se via apenas em pizzarias: o rodízio de massas. Esse modo deixou o estabelecimento conhecido não somente na região, mas também no Brasil, pois a Conchetta foi a primeira cantina a adotar esse método. Atualmente, o serviço serve o combinado de 6 tipos de massas, tendo até polenta e frango à passarinho como opções a la carte.

“O legado que eu gostaria que ficasse é a imagem, a origem e o espírito do meu pai. Ele sempre se importou com a energia do lugar, para que as pessoas se sentissem felizes aqui. Como ele era muito pobre e passou muita dificuldade, ele não deixava ninguém passar fome, ajudava muitas pessoas. Mesmo com as dificuldades, ele não se deixava esmorecer. E é na mesa que você se reúne com as pessoas, e todos que passaram por aqui têm boas memórias afetivas”, acrescenta.

Clientes fiéis: uma cantina de patrimônio histórico

Caminhando pelas ruas de São Paulo, encontramos mais uma história sobre herança familiar: a cantina San Marco, localizada há 47 anos em um dos locais italianos mais antigos da cidade, a Mooca. O estabelecimento do proprietário Luigi Antonio Casella, 39, foi um patrimônio deixado por seu pai.

Tendo como prioridade os molhos e massas caseiras feitas no local, suas receitas conquistam o público mais velho do bairro, que frequenta há anos o espaço à procura da tradicional sardela, prato que acompanha pimentão vermelho, sardinha e filés de anchova.

“A gente tenta manter a qualidade sempre, tirando a pandemia e tudo que aconteceu, tentamos manter os bons produtos e o bom atendimento. A gente tenta não mudar nada, mudar pouca coisa, mas manter sempre a qualidade”, diz Luigi, filho de napolitanos.

Nas telinhas: estrelando a Famiglia Franciulli

Como se trata de uma cultura que caiu na boca do povo, muitos brasileiros querem aprender as tradicionais receitas italianas, como um cannoli - doce típico da Sicília - ou até mesmo para impressionar no almoço de domingo. O programa Mulheres, do canal Gazeta, exibe semanalmente uma receita italiana comandada pelo Chef Alexandre Franciulli, dono da Cantina e Padaria 14 de Julho, localizada no bairro do Bixiga.

"Para mim, ir ao programa Mulheres é um prazer enorme. Ali consigo mostrar que as nossas raízes e tradições continuam vivas e atuantes em vários segmentos. Acredito que a nossa colônia é uma das maiores do Brasil, e o brasileiro se identificou muito com a cultura italiana”, menciona Alexandre.

A famiglia Franciulli tem sua tradição no ramo da gastronomia. Todos os representantes da família têm uma parte do fruto do sucesso dos estabelecimentos. As mulheres ficaram responsáveis pelo comando da centenária Padaria Italianinha, uma referência na gastronomia italiana em São Paulo.

“Meu irmão ficou na 14 de Julho e nós mulheres aqui na Italianinha. Estamos mantendo a tradição, estamos segurando aí. São quatro mulheres, todas determinadas a levar a continuidade da tradição”, conta orgulhosamente Vivian Franciulli, proprietária da Italianinha.

Outra curiosidade sobre a famiglia Franciulli são seus fermentos centenários. O bisavô de Vivian e Alexandre, o padeiro italiano Antônio, desembarcou no Brasil no século 19, e comprou a padaria Lucânia de Felipe Poncio, hoje chamada Italianinha. Algum tempo depois, a família também inaugurou outra casa no Bixiga. A padaria foi inaugurada no dia 14 de Julho de 1897, na rua 14 de Julho - e seu nome não poderia ser diferente. Assim, contendo o título dos pães mais antigos da cidade.

“As receitas e a tradição vêm da família e já estamos na quarta geração. Se tem a mesma tradição, principalmente nossos pães, que são o carro chefe aqui. O pão italiano é feito com nosso fermento natural e nós não passamos esse segredo para ninguém. É guardado desde a época do meu bisavô”, informa Vivian.

Costume e tradições familiares

De avós para netos ou de pais para filhos, as tradições são continuidades de um costume deixado para manter uma cultura viva. Sabe aquele caderninho de receita da sua mãe? Ele também é um legado.

“A minha nonna fazia macarronada, e minha mãe começou a fazer também, e eu aprendi com ela várias receitas e gosto bastante”, cita Giuseppe Spina, 59 anos, presidente do Clube Monte San Giacomo e filho de italianos.

Em São Paulo, você pode até mesmo encontrar qualquer porta gastronômica da Itália e se sentir em um verdadeiro almoço de domingo da sua nonna. Nos bairros do Bixiga e da Mooca, você consegue encontrar lugares que lhe trazem memórias dos seus antepassados. De geração em geração, a cultura italiana se tornou um patrimônio nos hábitos dos brasileiros.

Walter Taverna, "lenda" do bairro do Bixiga.

Foto: Reprodução / Italianismo

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Interior da cantina da Conchetta, localizada no bairro do Bixiga.

Ambiente da cantina San Marco, localizada no bairro da Mooca.

Foto: Divulgação / Cantina San Marco.

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Maria Emília apresentando no programa Mulheres o famoso prato da festa da Achiropita: a berijenla recheada.

Foto: Divulgação / Programa Mulheres

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Alexandre Franciulli no programa Mulheres, do canal Gazeta.

Foto: Divulgação / Programa Mulheres.

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Por conta da pandemia, a cantina retirou do seu cardápio o rodízio de massas. Com a reabertura dos restaurantes, a cantina precisou se adaptar e reinventou o prato pioneiro, criando o festival de massas. 

Foto: Divulgação 

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A Web reportagem "Nostra Itália" se trata de um trabalho acadêmico realizado em 2022 por estudantes de jornalismo da Universidade Paulista. O blog Nostra Itália é uma produção à parte. Contato: anostraitalia@gmail.com

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